Vendendo uma Cidade

Essa é mais uma daquelas que vai ficar para a história.

Orçamento aprovado na sexta-feira, briefing no sábado e filme pronto na quarta-feira. O cliente: Prefeitura de São Paulo, o job: filme para o Road Show de São Paulo, que ajudaria o Prefeito João Doria com o seu projeto de desestatização.

Acho que foi a primeira vez que iniciamos as filmagens sem um esboço mínimo de roteiro definido. Em reunião, eu, o Paulo, nosso produtor executivo e o Jonas, diretor do filme, elencamos alguns pontos que seriam fundamentais para serem filmados e o Jonas partiu no sábado mesmo com sua equipe.

Enquanto o time já estava em campo, era minha vez de redigir o roteiro o mais rápido possível. Como o prazo urgia, não tínhamos tempo para idas e vindas, eu tinha que “jogar seguro”, mas surpreender ao mesmo tempo. Esse foi também o primeiro roteiro que redigi, desde o primeiro momento, em inglês.

Confesso que sou apaixonado por São Paulo e procurei que isso fosse, de alguma forma, pano de fundo para a filme. Mais do que mostrar números grandiosos, busquei trazer um certo orgulho por eles e pela cidade também.

Em menos de duas horas o roteiro estava pronto e aprovado, o Jonas e sua equipe já não voava mais às cegas. Enquanto isso, o time de edição vasculhava o arquivo da Farol Filmes em busca de cenas que “aumentassem o caldo” e a trilha sonora estava sendo composta.

Roteiro aprovado, equipe na rua e edição já pesquisando imagens e começando a cobrir a locução, que já fora gravada na madrugada de sábado mesmo, pelo grande Kevin, locutor nativo americano que sempre trabalhamos em nossos filmes. A minha parte do job estaria calma, se não fosse o Paulo, que me largou com a “granada sem pino” nas mãos e foi para Brasília no domingo, para algumas reuniões de trabalho.

O lado bom de se trabalhar com um Prefeito que adora trabalhar é também o ruim. Tudo é resolvido com rapidez, normalmente às 3 da madrugada de uma segunda-feira.
Filme pronto na terça de madrugada, chegou a vez de apresentá-lo para a comitê. Chamo comitê, pois haviam umas quinze pessoas na sala de reuniões. Do lado da mesa, apenas euzinho. Jonas trabalhava com o time na correção de cores e o Paulo viajava a trabalho.

Tenho trinta anos de profissão nas costas, mas confesso que esse dia rolou uma insegurança quase que juvenil, explicável, é claro. Na reunião de briefing haviam apenas 2 pessoas do lado de lá, por que agora haviam 15 para avaliar o trabalho?

Nesses momentos, quando a pessoa “cai de pára-quedas” para dar palpites sobre algo, normalmente esses palpites não têm fundamento, e não tínhamos tempo para isso.
Para minha surpresa, o filme saiu quase ileso, o Secretário de Comunicação, segurou o ímpeto dos palpiteiros. O filme fora então para a aprovação final e o Prefeito fez poucos ajustes.
Normalmente esse case acabaria aqui, mas o mais surpreendente veio depois. Comecei a receber o filme no Zap, de inúmeras fontes. A peça começou a ser comentada em sites de notícias, saiu em jornais. Em menos de 48 horas já tinha mais de 2.5 milhões de views, tudo orgânico. Motivo de orgulho!

No final de semana abro o jornal e deparo com um texto da Fernanda Torres, em sua coluna da Folha, mencionando o filme, falando que o Rio precisava sentir orgulho assim da cidade. Confesso que pensei no fato dela ter tido mais tempo para produzir aquele texto do que eu tive para redigir o roteiro.

A última vez que vi os números, lembro que era algo em torno de 6 milhões de views, isso para o filme em inglês e produzido em tempo recorde, nada mal!

Até hoje recebemos ele como referencia de narrativa e qualidade, vinda de outros clientes e ainda é um excelente cartão de visitas.

A única coisa que peço sempre, é um pouquinho mais de prazo, é claro!

Por: Fabio Modena

No artigo anterior falamos sobre as necessidades de filmagem, economia de escala, e planejamento das produções. Tudo isso para conseguir tirar mais de menos, mantendo a qualidade, a criatividade e a eficiência dos filmes. Vamos ver mais algumas dicas.

Caso não tenha lido a primeira parte:

9 dicas para maximizar a sua verba – Parte 1

 

5. Elenco condizente com o filme

Se o ator global ou o digital influencer fará a diferença, então o contrate, mas precisa realmente fazer diferença para o seu público alvo. Tudo é uma questão de ROI.
No caso de protagonistas ou figurantes em filmes corporativos, gostamos de contratar apenas os necessários, isso quando exige mais interpretação em cenas de destaque. Peça ajuda aos seus colaboradores (caso você tenha permissão de uso de imagem). Lembre-se, elenco precisa ser transportado, alimentado, vestido e maquiado. Tudo isso custa.

6. Tenha um filme (roteiro) condizente com a sua verba

Já vi um filme de turismo começar com cena de café da manhã apenas para dizer que a família está planejando as férias e na sequência cortar para a cenas de viagem. O “café da manhã” significa verba empregada em cenário extra, objetos e alimentos que não fariam a menor diferença para a comunicação. Mais uma vez, não quero simplificar a sua produção, mas por mais bonito que seja o roteiro, é preciso pensar o que é necessário e o que não é para a narrativa. Café da manhã é muito bom em comercial de margarina. Para turismo, só se for em um super resort.
Se você tem pouca verba, coloque o dinheiro onde ele faz diferença e será visto. Uma boa câmera, um diretor bacana ou um locutor melhor podem levar o seu filme para muito mais longe.

7. Seja realista

Semanalmente recebemos grandes filmes como referência para orçamento, e que custaram centenas de milhares de dólares para serem produzidos. O benchmarking é muito importante, principalmente para a comunicação, mas deixe claro o que você quer da referência. É o “clima”, a “pegada”, a trilha ou a interpretação? Caso contrário o orçamento vai contemplar tudo e, afinal, poucas empresas têm a verba da Apple para seus filmes.

8. Para ontem é sempre mais caro

Também parece óbvio, mas acontece na maioria das vezes. Não “sente no job” nem corra atrás dele. O bom planejamento sempre faz diferença.
Certa vez saímos em uma correria insana para a produção de um filme de dia das Mães. Isso, dia das Mães, que acontece todo segundo domingo de maio, inevitavelmente! Qual a razão de correr e fazer de última hora?
Outra dica é: se você tem ideia de quantos filmes fará ao longo de determinado período, use, mais uma vez, a economia de escala. Proponha um pacote, produtoras adoram isso.

9. Contrate uma produtora parceira

Talvez essa seja a dica mais importante. Um bom parceiro é aquele que sabe economizar seu dinheiro. Se a sua produtora não está disposta a “perder tempo” com você na busca de uma solução mais viável, é hora de procurar outro parceiro.

Por: Paulo Viana – Produtor executivo

Nos dias de hoje, verba com “V” maiúsculo é cada vez mais difícil. O budget disponível se torna cada vez menor e escasso. Se você conseguiu fazer algo por X, tenha a certeza que o para o próximo job, igualzinho, a sua verba disponível será ¾ de X, quando não a metade.

Nesse texto você encontrará algumas dicas simples, mas que podem reduzir os orçamentos de uma produção de vídeo e ajudá-lo a maximizar sua verba.

Além dos custos intangíveis da experiência de produção e criação, que variam muito de produtora para produtora, grosseiramente falando, o que onera um vídeo é o que você coloca nele, como elenco, cenário, objetos, passagens aéreas, equipamentos de filmagem etc, como também o número de diárias de filmagem e deslocamento. Produzir com muito dinheiro é fácil, basta comprar, basta contratar, mas, se essa não é mais a realidade, quanto mais você planejar, mais eficiente será a sua produção, menor serão os custos e melhores serão os resultados. Esse é um trabalho a quatro mãos entre a produtora e quem a está contratando.

1. Reveja as necessidades de filmagens

Sempre, antes de embarcar uma equipe, nos perguntamos se captaremos algo diferente e relevante.
Você realmente precisa mostrar todas as unidades de sua empresa? Deslocar uma equipe para outra cidade só para mostrar a fachada de uma unidade fará realmente diferença em seu filme? Isso não pode ser resolvido com um mapa ou uma boa foto?
Veja bem, não estou querendo deixar nada de fora, nem simplificar demais a sua produção, mas a pergunta “Isso realmente fará diferença?” é um importante exercício em uma produção. Você não imagina quantas diárias já vimos serem desperdiçadas para cenas que poderiam ser resolvidas de outra maneira.
Trabalhe melhor o storytelling e otimizará muito a sua produção.

2. Empreitadas longas são melhores que diárias pingadas

A simples economia em escala. É mais fácil negociar diárias subsequentes com a equipe e a redução de custos pode ser significativa. Você deve estar se perguntando, mas por que isso não acontece sempre? Parece simples, mas dá muito mais trabalho. É preciso alinhar todos os detalhes de uma vez, como as agendas dos entrevistados, agenda da equipe, a operação da fábrica, os horários de voos, e muita gente não tem tempo nem paciência para isso. Mas garanto, vale a pena!

3. Planeje bem as viagens

Diária de deslocamento é diária. Por isso sempre estudamos os voos, transportes e conexões, tentando minimizar o tempo parado. Nem sempre uma passagem um pouco mais cara significa prejuízo. Lembre-se, tempo é dinheiro, então é melhor perder tempo no planejamento do que com o “taxímetro rodando”.
Peça um planejamento para a produtora e estude a quatro mãos.

4. Se possível, pague sempre as passagens e estadias diretamente

Assim você não bi-tributa um único custo. Outra verdade é que os preços de passagens oscilam muito. Muitas empresas possuem bons acordos com as suas agências de viagem corporativas. Se a produtora for orçar, sempre será pelo maior custo, para não correr riscos.

No próximo artigo, falaremos sobre elenco para filmes corporativos, roteiro, referências de filmes, prazo e a escolha da produtora parceira.

Por: Paulo Viana – Produtor executivo

  • Queremos entrevistar todos ex-ministros da Educação!
  • Todos?
  • Todos!!!

Assim começou o dialogo com o jornalista Antonio Góis, que chegou até a Farol Filmes com este imenso desafio, que lhe fora dado pelo Ricardo Henriques, superintende do Instituto Unibanco. Desafio que, naquele momento, passava a ser nosso também.

O primeiro passo foi mapear quais ainda estavam vivos e buscar seus contatos, um trabalho executado brilhantemente pelo time do Instituto. A maior tarefa fora iniciar contatos e marcar as entrevistas. A maioria dessas autoridades não está aposentada, nem de pijama. Tivemos que trabalhar com agendas concorridas e percorrer várias cidades, em seis estados, em busca de seus depoimentos.

Com isso entrevistamos literalmente todos os ex-ministros da Educação ainda vivos do país, com exceção de Marco Maciel, que não pode falar por motivos de saúde. Colhemos os importantes depoimentos de 14 autoridades da Educação, que ocuparam a pasta entre os governos João Baptista Figueiredo (1979- 1985) e Dilma Rousseff (2011 – 2016). Uma incrível experiência para a equipe da Farol Filmes, não apenas de produção. Fazer uma imersão no tema e entender como foram tomadas as decisões que conduziram a Educação no Brasil nas últimas décadas é sempre gratificante e inspirador.

Cortar o conteúdo na ilha de edição também foi extremamente difícil, afinal de contas, não poderíamos deixar nada de relevante de fora, e literalmente quase tudo do que foi falado por eles era relevante.

As entrevistas estão disponíveis no Youtube do Instituto Unibanco:

Mas o trabalho não ficou apenas em vídeo. Baseado nos depoimentos, Antônio Góis redigiu “Quatro décadas de gestão Educacional no Brasil”, da editora Moderna.

Ficamos muito orgulhosos com a parceria e ainda mais com os agradecimentos. Com a palavra, o autor:

Cortar algumas dessas entrevistas, tanto para o material audiovisual como para esse livro, foi uma tarefa árdua, e para isso foram fundamentais a paciência e a competência de toda a equipe da Farol Filmes, coordenada por Cristiane Suplicy e Paulo Viana.

Acompanhamos as diversas etapas da complexa tarefa de comunicação que o Colégio São Luís tinha pela frente. Depois de mais de setenta anos no tradicional endereço da região na Avenida Paulista, chegou o momento de avisar aos pais e alunos que o Colégio mudaria para outro endereço, próximo do Parque do Ibirapuera. A nova sede estaria a 7 quilômetros distante da atual.

Quais seriam os impactos da notícia? Como avisá-los que a rotina, pela qual estavam todos acomodados, mudaria de vez?

No primeiro momento criamos o filme oficial, que comunicou ao público sobre a grande mudança. O São Luís mudará em 2020 para uma sede incrível, com um projeto arquitetônico inovador e uma proposta pedagógica ainda melhor. Não era uma tarefa tão difícil para nós, a questão era ajustar o tom, pensar no storytelling.  Optamos por um filme pessoal, com a alta direção do Colégio comunicando pessoalmente a mudança, “mostrando a cara”. Procuramos também, logo nos primeiros momentos, apresentar os melhores diferenciais do novo São Luis, de forma ilustrativa, para que os todos pudessem visualizar facilmente como seria a nova sede e como ela é muito melhor que a atual.

Missão cumprida, assista abaixo:

A notícia foi recebida muito bem para a grande maioria dos envolvidos.

Algum tempo depois, fomos procurados novamente, pois como não poderia ser diferente, ainda haviam aqueles que “não cruzaram a ponte”, que ainda estavam duvidosos ou céticos.

Em reunião de briefing entendemos que um clima de “dúvida” e outro de “certezas” conviviam juntos pelos corredores do Colégio São Luís. Nossa solução de comunicação foi exatamente trazer esses dois climas para frente das câmeras, com as grandes dúvidas sendo respondidas por grandes certezas, tudo feito na boca dos principais protagonistas e principais interessados nessa mudança, os alunos.

A experiência foi incrível (assista aqui), alunos empolgados, atuando como profissionais. Conseguimos abordar temas como revisão de currículo e capacitação de professores de forma leve, divertida e o principal, inclusiva, importante para próprio São Luís, que valoriza seus alunos.

Hoje, menos de 1 ano depois do primeiro filme, o Colégio São Luís está com fila de espera em quase todas as séries e os alunos estão ansiosos para estarem lá!

Pode parecer óbvio, mas muitos profissionais, clientes e até agências, esperam para pensar em suas necessidades de comunicação apenas no momento da reunião de briefing. Um bom vídeo é muito mais que um simples vídeo, deve ser uma eficiente ferramenta de comunicação, não custa barato, então deverá ser a mais assertiva possível.

Resolvi redigir aqui algumas dicas rápidas, que podem ser úteis em um futuro briefing, seja ele para um vídeo ou outra peça publicitária.

Aqui vão:

Tenha objetivos claros

Por inúmeras vezes ouvi que o objetivo do nosso trabalho era “fazer um Institucional”. Ao meu entender, esse é o caminho, não o objetivo. O objetivo tem que ser claro e direto, como vender mais, apresentar a empresa, oferecer um serviço, mas o principal, o objetivo deve estar alinhado com todos os envolvidos. Sim, vocês não imaginam quantas vezes há vetores ou expectativas diferentes dentro  do mesmo cliente e para o mesmo job.

Nos momentos em que sinto que o objetivo não é claro, sempre faço algumas perguntas:

  • Ao terminar de assistir ao seu filme, o quê quer que o espectador pense de sua empresa ou produto?
  • Quais informações relevantes ele deve guardar para si?
  • E o principal, o que ele deve fazer? (Qual o call to action?)

Por incrível que pareça, não são muitas as reuniões onde as respostas para essas perguntas foram pensadas e repercutidas antecipadamente.

Faça o exercício do desapego

O tempo das pessoas vale ouro, não podemos desperdiçá-lo, principalmente se for um “tomador de decisões”.

Os vídeos precisam ser curtos e eficientes, se quer explicar cada detalhe de um produto ou serviço, faça um folheto ou catálogo. O vídeo é a ferramenta certa para passar um clima, um look and feel, ou até mesmo um conceito, se você detalhar muito, sua peça não deverá ter muito sucesso.

De 2 a 3 minutos, no máximo, esse deverá ser o tempo que você precisa para contar tudo o que precisa contar. É aí que entra o “exercício do desapego”, que deverá ser pensado, antes mesmo da primeira reunião de briefing.

Você deve estar se perguntando nesse momento, mas o quê falar e o quê guardar?

Aqui vão algumas dicas para o desapego:

  • Por mais que a história de sua empresa encha você de orgulho, não é preciso detalhar. Uma vez assisti ao um vídeo que contava cada detalhe histórico da empresa, até as reformas que foram feitas em suas unidades fabris!
  • Nesse momento vale a seguinte reflexão: Essa informação fará alguma diferença no objetivo final?  Se a reposta for outra, além de “tenho certeza que sim”, nem pense, corte.
  • Dê destaque ao que merece destaque. Já vi filmes repletos de letreiros e números, mas sou capaz de apostar, que ao terminar de assisti-lo, por mais impactante que sejam esses números, as pessoas efetivamente só lembrarão de dois ou três.
  • Se isso não for um filme de treinamento, poupe detalhes técnicos ou operacionais. Uma vez fui convidado a atualizar o filme de segurança de uma industria química, esse filme era exibido na portaria, antes mesmo da entrada. Um detalhe que me assustou foi a explicação do funcionamento da máscara que eles forneciam como EPI (equipamento de proteção individual), com detalhes esquemáticos, composição e tudo, quando na verdade, a informação deveria ser exibida era “em caso de emergência, ponha a máscara e corra”. Lembre-se do objetivo do filme e quais os detalhes são relevantes e quais não.
  • Não subestime a inteligência do espectador. Ele provavelmente poderá tirar conclusões por si só, principalmente se forem óbvias, não precisamos mastigar tudo.
  • Se você realmente precisa treinar ou explicar algo mais complexo, pense em usar um storytelling diferente e criativo, que prenda as pessoas, ou então divida o filme por capítulos.

 Um filme é uma boa ferramenta, mas não é um canivete suíço

Acho que já usei essa frase um milhão de vezes, e ainda vou usá-la muito mais. É muito comum as empresas querem otimizar a verba e darem vários objetivos para o mesmo filme. Um canivete suíço é muito bom, serve para várias coisas, mas se você precisa de um alicate, use um alicate de verdade, pois o alicate do canivete nunca é tão bom.

Certa vez me pediram para fazer um filme de uma empresa de alto luxo, mas que deveria motivar o pessoal do chão de fábrica. Como falar com públicos de classes tão distintas em uma única ferramenta? De forma eficiente, é difícil, quase impossível. A resposta, neste caso, foi criar duas locuções distintas, usando a mesma base de filme.

Se você realmente precisa usar seu filme para diferentes finalidades, crie ordem de prioridades, assim ficará mais fácil focar nas mais importantes, só assim ele será realmente eficiente.

Saiba o que deve ser filmado e onde filmar

Essa informação é fundamental para a fase de orçamento. Um dos principais custos que onera uma produção são as diárias de captação de imagens. Vale um exercício de pensar o que é realmente necessário e o que não faz diferença. Posso afirmar que inúmeras foram as vezes que nossas equipes viajaram o país para captar mais do mesmo, só que em outra unidade. Isso gerou custo de diárias e transporte desnecessários.  O pensamento “que tipo de cenas serão feitas lá “ é  muito mais econômico que “o pessoal de lá ficará com ciúmes de não aparecer no filme”. Existem outras formas de prestigiar todas as unidades de sua empresa sem que tenhamos que deslocar equipe e equipamentos até eles.

Forneça informações relevantes e pertinentes

Informação é tudo para a elaboração de um roteiro, quanto mais melhor. Lembre-se que um briefing raso de informações, provavelmente terminará também em um roteiro raso. Uma vez ouvi “tá tudo no site”, mas quando apresentei o roteiro ao CEO da empresa, ele disse “Onde você tirou isso, do site? Ele tá todo defasado!”.

Mas é preciso também  filtrar as informações, é importante se dar ao trabalho de levantá-las, de destacá-las e principalmente, de explicá-las. Um PPT que foi feito para acompanhar uma apresentação dificilmente terá a mesma eficiência sem a apresentação. Não basta apenas encaminhar por e-mail.

Esteja sempre aberto a novas ideias

Talvez essa seja uma das mais importantes dicas. Por mais que a gente conheça o nosso negócio, uma visão de fora poderá trazer um olhar diferente, trazer frescor e novas ideias. Conte com o poder do storytelling e o principal, lembre-se que um vídeo pode e precisa ser legal, precisa ser assistido com prazer e ser lembrado. Só assim será eficiente.

A minha dica final é não seja óbvio. O pedido “Moderno”, “Para cima” e “Viral” dificilmente o conduzirá para esses caminhos. Quanto mais preparado você está para a jornada, melhor será o resultado. Contrate uma produtora de confiança e o principal, confie neles. Quem faz isso todos os dias, com certeza saberá onde acertar.

Por: Fabio Modena (Diretor de Conteúdo)

Quando pequeno tinha um sonho!

Sonhava em ser piloto, mas não era qualquer piloto, tinha que ser piloto de caça!

Todo dinheiro que ganhava, e como é difícil ganhar dinheiro com dez anos de idade, virava revista ou kit de avião para montar.

Os anos passaram e por incongruência do destino, aquele jovem sonhador não virou um “cavaleiro dos céus”, tornou-se um publicitário.

O tempo passou e o destino mais uma vez resolveu interferir, mas desta vez levando o publicitário novamente ao encontro da aviação. Foi trabalhando como diretor, produtor e muitas vezes como cinegrafista, que passei a produzir conteúdo de aviação e para a aviação. As revistas, o conhecimento e a paixão foram fundamentais para trabalhar na indústria, produzindo vídeos e voando em tudo que conseguia voar.

O sonho agora era diferente, era o de produzir imagens, imagens que fariam os outros sonharem.

No dia 1 de abril de 2009, juro que não foi mentira, vários sonhos se concretizaram. Sonhos que deixariam orgulhoso aquele jovem sonhador. Voei em um Mirage 2000B, o mais novo caça da Força Aérea Brasileira, rompendo a barreira do som em um voo supersônico.

Fica aqui meu relato de momentos inesquecíveis:

Chegamos à Anápolis,GO, dia 31 de março, com o objetivo de fazer uma reunião de planejamento e para preparar o equipamento para a filmagem no 1º GDA, o Grupo de Defesa Aérea da FAB, que tem como missão patrulhar e defender a soberania do nosso espaço aéreo. O material seria utilizado como matéria no programa TAM nas Nuvens, produzido pela Farol Filmes e exibido a bordo da aeronaves da TAM.

Fomos calorosamente recebidos pelo Capitão Marques, que além de piloto, era o oficial de comunicação do esquadrão.

Feitas as devidas apresentações fomos prontamente levados para conhecer as instalações dos Jaguares, é assim que são chamados os pilotos do 1º GDA. No hangar de manutenção se encontrava reluzente a aeronave onde voaria na tarde seguinte, o biplace 4933.

Enquanto a equipe montava as micro-câmeras e colhia imagens da movimentação na base, fiz com Capitão Marques a familiarização da cabine do Mirage e briefing do assento ejetável. Aprendi que uma ejeção não é como vemos nos filmes, a violência com que o piloto é atirado para fora da aeronave é tão grande, que normalmente algumas vértebras de sua coluna são comprimidas, reduzindo sua altura em média 2 cm. “Não existe uma ejeção errada, ou você morre ou sobrevive”. Essas palavras são reconfortantes para alguém que está prestes a voar supersônico, sentado em uma turbina com asas e com 4 toneladas de combustível em seus tanques.

Durante o curso aprendi como operar o rádio, ligar o radar, o HUD (Head up Display) e manipular o sistema de oxigênio, que é essencial para o voo a grandes altitudes. O Mirage 2000 é semi-pressurizado, o que limita o voo a 50 mil pés, altitude na qual o sangue começa a ferver.

Não preciso dizer que a cabine de um avião de combate não é um lugar confortável. Já usei camisas mais folgadas e isso me preocupou muito, pois só tinha uma posição para operar minha câmera, para o lado, e só.

O próximo passo foi provar meu equipamento pessoal de vôo, que consistia em um macacão, colete com equipamento salva-vidas e traje anti-G. Essa curiosa peça fica conectada à aeronave e infla quando o avião faz curvas fechadas ou subidas rápidas. Nesses casos o sangue não vence a gravidade, que é aumentada bruscamente, e se acumula nas pernas, fazendo com que o piloto perca a consciência.

Bom, macacão provado, capacete e mascara testados. Tudo separado e preparado para o dia seguinte. Confesso que pouco dormi naquela noite, uma mistura de ansiedade com preocupação, pois seria o primeiro civil a filmar o Mirage 2000 em voo. Um avião que mostrava ser um local inóspito para se realizar o meu tipo de trabalho.

O dia 1º de abril amanheceu e durante vários momentos acreditei que alguém me falaria que tudo não passava de uma brincadeira e que eu não iria voar.

Filmagens e depoimentos no solo, almoço e briefing do voo, contrariando as minhas expectativas o dia passou muito rápido.

Ficou decidido que voaríamos em três aeronaves, decolando em formação eu no 33, pilotado pelo Major Mioni e o 42 pelo Capitão Marques na ala e 10 segundos depois o Capitão Charoni decolaria com o 43. Faríamos então algumas manobras básicas, uma simulação de combate, o voo supersônico e retornaríamos à base após 30 minutos.

Briefing acabado, chegou a hora de guarnecer. O coração batia mais forte, ansioso para saber como seriam os próximos 30 minutos.

Check na posição 2, entramos na pista para a decolagem. Não preciso dizer o quanto grudei no banco quando aceleramos. Para quem já voou de jato executivo nada muito radical, mas a surpresa realmente veio quando o Major Mioni acionou a pós-combustão, o PC como e conhecida pelos pilotos, um sistema que queima mais combustível na saída da turbina, praticamente dobrando sua potência e gerando uma enorme labareda de fogo na tubeira. A sensação era que o assento iria me atravessar. A pista chegou ao fim em poucos segundos e já estávamos no ar, com o altímetro girando mais que ventilador.

Costumo dizer que lugar de avião é no céu e o Mirage 2000 se mostrou ser uma das mais belas aeronaves do mundo, exibindo suas curvas imponentes para a lente da minha câmera.

Loopings, barris e oitos de tudo quanto é tipo, encerramos a parte calma do voo. Chegou a hora de fazer o combate simulado, que seria filmado para a micro-camera. Nesse momento senti feliz por ter virado publicitário e não ter que passar por aquilo todos os dias. A forças G’s pressionam cada milímetro do seu corpo contra o assento, o rosto parece se deformar e a sensação é que você está babando na sua orelha. O macacão anti-G aperta suas pernas e quanto mais apertada é a curva, mais o macacão aperta suas pernas, deixando a impressão que você está sendo esmagado. O enjôo é proibido nesse voo, pois usar o “saquinho” significa tirar a mascar e ficar sem o precioso oxigênio para respirar.

Major Mioni deu a ordem para subirmos para 47 mil pés (14.325m), para a corrida supersônica. Fiquei pasmo com a potencia daquela maquina de guerra, que para nossa surpresa, rompeu a barreira do som na subida. Pelo rádio ouço: “parabéns, você é supersônico!”. Foi nesse momento que resolvi abandonar um pouco a câmera e curtir o voo. Percebi o céu azul marinho e a curvatura da terra, estávamos na velocidade de Mach 1.2, ou 1.467Km/h.

Gostaria de dizer que vi luzes, uma “clave de sol” flutuando no céu, ou anjos. Não há diferença nenhuma no voo supersônico. Só para os que estão em solo, que ouvem um forte estampido, conhecido como estrondo sônico (sonic boom) e caso o avião esteja a baixa altitude, algumas vidraças podem se quebrar com o deslocamento de ar. A única diferença que senti era a emoção de estar ali, rápido como uma bala e alto como nunca. Estava em todos os sentidos “no topo do mundo”.

O resto da esquadrilha nos abandonou para o seu treinamento de rotina e nós iniciamos o regresso para a base. Nesse momento pude deixar a câmera no colo e curtir plenamente o voo. Foi então que o Major Mioni resolveu demonstrar as qualidades do 2000, tornando o sonho mais próximo de um pesadelo. Giros rápidos, arfadas e guinadas radicais e o ponto alto do voo: uma curva de 9G’s! Essa manobra foi o momento mais radical da minha vida, apertado pelo anti-G, esmagado pela gravidade e realmente próximo do desmaio causado pela falta de sangue no celebro. Coisa de masoquista e o mais violento que um voo controlado pode ser.

Depois dessa demonstração a manobra que mais queria fazer era “um pouso bem feito”. Juro que deu saudades de casa e foi isso que meu piloto e algoz acusou ter intenção de fazer.

Lembrei que combinamos que durante o retorno à base faríamos algumas passagens baixas para a equipe de solo filmar. Dá para imaginar um rasante à 20m do solo e uma velocidade próxima aos 1.000km/h? Foi isso mesmo que fizemos. A equipe que filmava quase caiu com o deslocamento de ar!

Mais alguns “toques” e finalmente o pouso. As asas em “delta” fazem com que a aproximação dos Mirage seja muito inclinada, quase à 45º. Mais uma vez contrariando as expectativas, o pouso foi manteiga. Quer dizer, depois do voo que fizemos, pode ter sido uma pancada no chão que eu nem senti, fiquei feliz.

Táxi feito, turbina desligada, era hora de desembarcar. Desci do 33 parecendo que tinha apanhado, mas com um sorriso enorme no rosto e orgulhoso de ter resistido. Comprimentos, agradecimentos e nas mãos um diploma, que certifica meu voo.

Foi uma hora de voo, 60 radicais minutos e a realização de um sonho que poucos conseguiram realizar.

Na volta para casa me sentia novamente um menino, querendo comprar revistas de aviação, kits para montar e principalmente, sem medo de sonhar.

Fabio Modena